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O que é sintoma para a Psicanálise?

Entenda o que Freud e Lacan revelaram sobre sintomas como forma de expressão do inconsciente

 

Um sintoma é um substituto de algo que se reprimiu (Freud, 1916).

Essa frase, escrita há mais de 100 anos, ainda ressoa em quem sofre e em quem escuta.

Muitas vezes, o sintoma aparece no corpo, na ansiedade que aperta o peito, no enjoo que impede a fala, no esquecimento que trava a ação. O que Freud propôs não foi um diagnóstico médico, mas uma escuta que pergunta: o que isso quer dizer? Em Freud, o sintoma é antes de tudo uma formação do inconsciente, uma solução comprometida entre forças psíquicas opostas. Ele não é apenas um erro ou uma falha do funcionamento mental, mas uma inscrição de desejo recalcado, que retorna disfarçado. Freud, em 1909, escreveu que “os sintomas neuróticos são realizações substitutivas de desejos reprimidos, e se formam como resultado de um compromisso entre esse desejo e a defesa que o reprime” (Freud, 1909).

Lacan, décadas depois, retoma a proposta freudiana e a radicaliza:

O sintoma é uma formação do inconsciente, é uma resposta do sujeito àquilo que escapa à linguagem

(Lacan, 1975)

Lacan retoma a noção freudiana, conduzindo-a a um novo patamar: ao dizer que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, ele desloca a clínica do sintoma para o campo da escuta. O sintoma é uma escrita no corpo, que se transforma em um texto que pode ser lido. Há, ali, um saber que escapa ao sujeito, um saber do inconsciente que se expressa em atos, tropeços, silêncios ou dores. Por isso, o tratamento analítico não visa eliminar o sintoma, mas escutá-lo, atravessá-lo, fazer com que ele fale e revele sua lógica.

Em outras palavras, quando algo não pode ser dito, aparece como sintoma. Portanto, não se trata de decifrar tudo, mas de abrir uma escuta em que o sujeito possa fazer laço com o que sofre e, talvez, encontrar, nesse percurso, um modo de desejar.

fear, anxiety, girl, portrait, beauty, woman, feelings, body, emotion, cover, tulle, character, ewelina, fear, fear, fear, fear, fear, anxiety, anxietySintomas como ansiedade, depressão, crises de choro ou falta de sentido não são apenas nomes médicos, mas formas que o inconsciente encontra para se fazer ouvir. Quando o corpo trava, quando a fala falha ou a angústia se repete, algo de si está tentando emergir. Freud (1917) afirma que o sintoma tem sentido, ainda que ele esteja disfarçado: “A doença é um substituto do conflito psíquico”.

Escutar esse conflito é mais do que combater sinais. É possibilitar que o sujeito diga o que, até então, o corpo falava por ele. Portanto, não se trata de adaptar o sujeito a uma norma, nem de eliminar seus impasses com respostas prontas. O que está em jogo na psicanálise é permitir que cada um possa construir um saber sobre seu próprio modo de sofrer. O sintoma é singular. Ele carrega a marca de um sujeito, de sua história, de seus impasses e da maneira como ele tentou, do seu jeitinho, responder ao desejo e à falta. Há algo de criativo no sintoma, ainda que ele faça a pessoa sofrer.

Se algo do que você leu ressoou, se há um sintoma que insiste ou uma pergunta que não cala, talvez seja hora de conversar.

Fale comigo – um espaço de escuta pode estar te esperando.

Referências:
FREUD, S. (1909). Cinco lições de psicanálise.
FREUD, S. (1916). Conferências introdutórias à psicanálise.
FREUD, S. (1917). Luto e Melancolia.
LACAN, J. (1964) O Seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.
LACAN, J. (1974-75). O Seminário, livro 22: R.S.I.

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